Pedir, suplicar, insistir...


O Senhor nos criou para Si e, por isso mesmo, colocou em nosso coração o desejo de um “não sei o quê”, uma saudade, uma sede do Sentido e da Plenitude, que estão sempre mais além de tudo quanto nos possa satisfazer e alegrar...

Diz Santo Agostinho que “para alcançarmos esta vida feliz, a verdadeira Vida nos ensinou a orar. Não com multiplicidade de palavras, como se quanto mais loquazes fôssemos, mais nos atenderia. Mas rogamos Àquele que conhece, conforme Suas mesmas palavras, aquilo que nos é necessário, antes mesmo de Lhe pedirmos” (cf. Mt 6,7-8). Então, rezar é essencial para fazermos, por dentro, experiência da Vida de Deus, da Vida com Deus. E a oração verdadeira, certamente, inclui a oração de súplica, aquela em que expomos ao Senhor Deus nossos desejos, nossas necessidades, nossos anelos.

Neste contexto, o próprio Doutor de Hipona apresenta uma questão: “Pode alguém estranhar por que motivo assim dispôs Quem já de antemão conhece nossa necessidade”. Em outras palavras: para que rezar apresentando a Deus meus pedidos se Ele já os conhece? Aliás, poderá mesmo a minha súplica, a minha insistência, mudar o que Deus já determinou? Eis a resposta do santo Bispo: “Temos de entender que o intuito de nosso Senhor e Deus não é ser informado sobre nossa vontade, que não pode ignorar. Mas despertar pelas orações nosso desejo, o que nos tornará capazes de receber aquilo que se prepara para nos dar”. Talvez você pense, meu Leitor amigo: “É uma resposta esperta, inteligente, mas simplesmente para encontrar uma saída para o problema. No entanto, uma resposta sem consistência alguma!” Errado! A resposta é profunda e, se olharmos bem, condizente com a nossa experiência.

Eis o seu sentido: quando rezamos, pedimos, suplicamos insistentemente por algo que almejamos. Ao fim, as coisas sairão ou não como eu supliquei. Mas, atenção: se eu rezei de verdade, se insisti, se me coloquei constante e teimosamente nas mãos do Senhor, se Lhe entreguei a minha causa, então, sem que eu perceba, fui me abrindo para o Senhor, fui sintonizando cada fibra do meu ser, da minha vontade, da minha sensibilidade, do meu inconsciente, ao Seu querer... No fundo a oração de súplica – ou qualquer outra oração – é um modo de se colocar diante do Senhor Deus com todo o nosso ser, não como quem se coloca diante de uma ideia, de uma teoria, mas diante de Alguém presente e atuante no mundo e na nossa vida.

Assim, sem perceber, enquanto rezo por alguma coisa, é todo o meu ser, em todas as coisas, que se vai abrindo para uma consciência não só racional, mas afetiva e até mesmo física, de que o Senhor está presente na minha vida e age amorosamente em meu favor. Ao final, quer suceda como eu pedi, quer as coisas tomem um rumo que eu não esperava, terei a plena certeza de que tudo está nas mãos do Senhor e tudo aconteceu conforme Seu imperscrutável desígnio, Sua santa e misteriosa vontade! É o que Santo Agostinho termina por insinuar, pensando naquilo que o Senhor nos deseja conceder como fruto da nossa oração: “Isso é imensamente grande, mas nós somos pequenos e estreitos demais para recebê-lo. Por isto, nos é dito: Dilatai-vos; não aceiteis levar o jugo com os infiéis (2Cor 6,13-14). Isso é tão imensamente grande que os olhos não o viram, porque não é cor; nem os ouvidos ouviram, porque não é som; nem subiu ao coração do homem (cf. 1Cor 2,9), já que o coração do homem deve subir para lá. Iso nós o recebemos com tanto maior capacidade quanto mais fielmente cremos, com mais firmeza esperamos, mais ardentemente desejamos. Por conseguinte, nesta fé, esperança e caridade, sempre oramos pelo desejo incessante”.

Dito de um modo mais simples: quando rezamos vamos deixando que Deus seja realmente uma Presença pessoal na nossa vida, vamos crescendo na fé e no amor para com Ele. Ao fim de um período de oração insistente, sem nem mesmo nos termos dado conta, crescemos na intimidade com Ele, crescemos na confiança em relação a Ele, aprofundamos nossa percepção do Seu mistério, da Sua grandeza, de quanto Ele é fiel e próximo, mas, ao mesmo tempo, tão grande, misterioso, incompreensível. Assim, ao final de tudo, seja lá o que o Senhor nos der, seja lá como faça com aquilo que pedíamos, saberemos com a certeza de uma fé renovada e de um amor mais íntimo para com Ele, que tudo saiu como Ele mesmo desejou, tudo foi obra do Seu amor; e estaremos prontos para acolhê-lo em paz!

Dom Henrique Soares da Costa, 
Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju.

Fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário