Um pecado sem perdão?!


Por que Jesus foi tão duro com Seus adversários no Evangelho Mc 3,22-30? Que é esse pecado contra o Espírito Santo, ou melhor, essa “blasfêmia” contra o Espírito? Que significa afirmar que o blasfemador contra o Espírito “nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”?

Primeiro. A indignação de Jesus é pela desonestidade dos Seus adversários. Estão vendo claramente que Ele acabara de realizar um exorcismo; sabem que Satanás não é inimigo de Satanás e, no entanto, atribuem o exorcismo ao Diabo.

Ora, Jesus é o Messias, o Ungido com o Espírito Santo. Pleno do Espírito, é pelo Espírito Santo, Dedo de Deus (cf. Mt 12,28; Lc 11,20) que Ele pratica os exorcismos. Então, os Seus adversários atribuem ao espírito maligno o que é obra do Espírito Santo! Blasfemam, portanto, contra o Espírito, injuriam, chamam de demônio, de Maligno ao Espírito de Deus, que é pura benignidade!

Mas, em sentido mais profundo, o que é o pecado contra o Espírito Santo? Não se trata de um simples pecado, de um ato primeiramente, mas de uma atitude. Peca contra o Espírito quem conscientemente se fecha à Sua ação, diz-Lhe não quando poderia dizer-Lhe sim. Pecar contra o Espírito é fechar-se conscientemente à graça de Deus sem esforço algum para sair dessa situação. É pecado gravíssimo porque termina por extinguir o Espírito em nós, pois Deus nunca violenta a nossa liberdade. E quem não se deixa guiar pelo Espírito de Cristo não pertence a Cristo, está morto para a Vida. Uma pessoa que continuamente se feche para a graça, fruto da ação do Espírito em nós, corre o risco de se tornar tão insensível que já não mais sinta necessidade de Deus nem Lhe dê lugar na sua vida. Assim, termina por viver e morrer sem conversão, sem arrependimento, sem abertura à graça de Deus, fechando-se eternamente para a salvação!

Segundo. Por que Jesus afirma que não há perdão para este pecado? Antes de tudo uma afirmação clara e absoluta: não há pecado que não possa ser perdoado, não há pecado irremissível! A fé da Igreja é claríssima: Cristo, pela Sua morte e ressurreição e pelo dom do Seu Espírito, é fonte inesgotável de misericórdia e perdão. Se houvesse um pecado que não fosse possível ao Senhor perdoar, teríamos que admitir que, ao menos em uma situação, o pecado é maior e mais forte que a graça e Satanás mais forte no seu mal que Jesus na Sua misericórdia salvífica. Ora, isto é impossível e é uma blasfêmia contra o infinito amor do Salvador! A Escritura é clara: “Onde abundou o pecado, a graça superabundou!” (Rm 5,20) Mas, então, por que Jesus afirma categoricamente que esse pecado contra o Espírito não terá perdão? Trata-se de um exagero linguístico, oratório, destinado a nos sacudir, a chamar atenção para a suma gravidade de alguém ir se fechando para a ação do Espírito até tornar-se insensível e não mais ser capaz de se arrepender. O Catecismo da Igreja Católica explica-o de modo muito claro: “A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar a impenitência final e à perdição eterna” (n. 1864).

Estejamos atentos para que, de infidelidade em infidelidade, não nos tornemos insensíveis ao Espírito do Senhor que age em nós. Estejamos atentos para não receber em vão a graça de Deus. Sobretudo quando o Espírito, pela voz da consciência nos mostrar o pecado, que sejamos dóceis, busquemos combater a pecaminosidade e confessar o pecado cometido, com o sério propósito de emenda de vida.

Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju.


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