No dia 2 de fevereiro a Igreja comemora a Apresentação do Senhor no templo, conforme nos narra o evangelista São Lucas (cf Lc 2,22-40). Trata-se de um dos “mistérios” da infância de Jesus, ainda com sabor de Natal; por esse motivo, o Papa João Paulo II queria que o presépio, na Praça de São Pedro, fosse desfeito apenas após o dia 2 de fevereiro...
É uma celebração muito querida ao Povo de Deus, que lhe foi atribuindo vários significados e expressões exuberantes de piedade popular. De fato, quem está no centro da festa é Nosso Senhor; mas Nossa Senhora também é lembrada, com vários títulos: N.Sra. da Luz, das Candeias, da Candelária, dos Navegantes... E não é sem razão, pois ela que deu à luz, para este mundo, aquele que é a própria luz do mundo; ela leva Jesus ao templo e o apresenta ao sacerdote; é ela que introduz no templo aquele que é o Senhor do templo e que, de fato, é o verdadeiro e único templo de Deus entre os homens.
Dos muitos aspectos bonitos desta festa, o simbolismo da luz talvez é o mais destacado. Por isso também se faz a bênção das velas e a procissão com a luz, como prevê o próprio rito da Liturgia. Não se trata, simplesmente, de benzer velas e de levá-las para casa, como objetos de devoção em si mesmas... Elas devem ser acesas, iluminar, manifestar a luz, significando a luz que Maria introduziu no mundo e levou ao templo; luz que é o próprio Cristo Jesus em quem nós cremos.
Já no século VII, o santo bispo Sofrônio convocava o povo, num sermão para esta festa: “Todos nós, que celebramos com tanta piedade o mistério do encontro com o Senhor, corramos para ele cheios de entusiasmo. Ninguém deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar sua luz! Acrescentemos também nós algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas do mal com sua luz eterna e também manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro de Cristo”.
A festa da Apresentação já antecipa o que Jesus anunciará na sua pregação: “Eu sou a luz do mundo: quem me segue não caminha nas trevas”. Aderir pela fé a Cristo e ao seu Evangelho significa sair das trevas e ser iluminados com a claridade da luz divina ao longo da vida. São Paulo dirá que o Batismo nos faz sair das trevas, para sermos “luz no Senhor”. Por isso, ele recomenda: “andai como filhos da luz, para que as trevas não mais vos surpreendam”. Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo, ilumina todo homem (cf Jo 1,9). “Portanto, irmãos, conclama ainda S.Sofrônio, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós!”
Esta bela festa também tem um forte significado missionário: uma vez iluminados com o fulgor de Cristo ressuscitado, também os cristãos devem ser luz para o mundo: “vós sois a luz do mundo: brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está no céu”. Como Simeão e Ana, não devemos ocultar esta luz, mas proclamá-la e difundi-la a todos ao nosso redor!
Jesus Cristo é a verdadeira “lumen gentium” – luz dos povos: luz de verdade, esperança, beleza, amor, justiça, perdão... E a Igreja, formada pela multidão daqueles que receberam o brilho desta luz no encontro com Ele, deve iluminar as realidades do convívio humano, para que todas as “trevas” sejam superadas. Esta é a contribuição dos discípulos de Cristo para a edificação do mundo.
Arcebispo de São Paulo (SP)
Fonte: CNBB
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