Não quero perder a capacidade de admirar as belezas do mundo. O ipê florido
à beira da estrada é um imperativo que reconheço bíblico. Nele há uma
fala de Deus me pedindo calma. A sacralidade da vida ganhou voz em
estruturas singelas, e solicita que eu me proste.
É
santo o que os meus olhos enxergam. A cor amarela encontra moldura no
azul dos contornos do céu. Ao longe, o verde completa o quadro. Paira
sobre a cena um mistério raro, como se houvesse uma névoa a me recordar
que a raridade da beleza é uma epfania divina.
O
meu desejo é deixar de seguir o caminho que me leva ao meu destino.
Impossibilitado da parada, ouso diminuir a marcha. Quero a cena dentro
de mim. Ouso rezar a Deus que me permita registrar na memória a beleza
que não posso aprisionar.
Olho
para os que passam. A velocidade dos carros não permite que os seus
ocupantes vejam o que vejo. Eles estão privados da mística que só pode
ser compreendida quando os passos perdem a pressa. Estão ocupados demais
com suas urgências práticas. É preciso chegar. Há muitas iniciativas a
serem tomadas e o tempo não pode ser perdido.
Enquanto
isso, o ipê se ocupa de sua florada amarela. Cumpre no tempo a proeza
de ser um sentido oculto e deslumbrante para os distraídos que o
percebem.
Nele há uma pequena parte da beleza do mundo que tive a graça de descobrir. E só por isso diminuí o ritmo da minha vida.
Olhei
com calma para sua beleza e nele percebi o sorriso do Criador. Sorriso
de Pai, que vez em quando, faz questão que seus filhos diminuam suas
velocidades para uma breve brincadeira redentora.
Eu aceitei. Brinquei com Ele. Fiquei mais feliz!
Padre Fabio de Melo
http://www.fabiodemelo.com.br/
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