Compaixão

Não existe alguém mais compassivo do que Deus em relação ao ser humano. Muitos, até cientistas, procuram saber se é possível a existência divina. A matéria, por ela mesma, não é suficiente para esclarecer sua causalidade em relação ao universo. O horizonte intelectual humano é muito frágil e limitado para conhecer a realidade da essência da divindade transcendente à matéria. Mesmo com a reflexão sobre a causalidade, buscando-se, pela lógica intelectual, o ser não limitado que possibilitou a existência dos seres contingentes, há a obnubilação do conhecimento humano sobre o Ser Superior a tudo e de dimensão incomensurável. 

Por isso, o Ser Supremo quis dar-se a conhecer, inicialmente de modo indireto, através do cosmo, e, de há certo tempo, através daquele que ele enviou, através de um ser humano que o gerou. O desafio da fé, mesmo para os que não crêem, apresenta-o na fragilidade da natureza humana sujeita à morte física, mas ainda superando esta com a ressurreição. Mostra aí sua natureza também divina. Aceitá-la não é só buscar os dados históricos narrados também por Flávio José, ou mesmo pelos fatos apresentados pela bíblia. A ciência humana é demais pequena para, por si só, querer explicar ou aceitar a grandiosidade do fato ou da realidade do Criador.

Jesus, o Filho de Deus a nós enviado, apresenta-nos de modo compreensível a relação do humano com o divino. Diferentemente de outros religiosos, ele não só fala de Deus. Mas prova ser o mesmo Deus que se torna humano. Seus milagres dão essa conotação. A prova cabal é sua ressurreição. A ciência não é capaz de realizar a ressurreição para a vida imorredoura. Na postura messiânica e humana de Jesus ele mostra profunda compaixão para com o ser humano: “Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por ela e curou os que estavam doentes” (Mateus 14, 13). Sua atitude não só o fez constatar o sofrimento humano, mas fez ação prática de tirá-lo dessa situação. Mostrou isso inúmeras vezes. Mas ele não queria só tirar o sofrimento físico, próprio de seres limitados como somos nós.

Mostrou-nos, na prática, sua compaixão, assumindo nossos próprios limites de sofrimento, ingratidão, perseguição, condenação injusta e morte por crucifixão. No entanto, o maior milagre não é o de erradicar esses limites para a humanidade, e sim o que causa o maior infortúnio, o mal moral e espiritual. Ele quer nossa vida digna já na terra. Poderíamos ter muito menos sofrimento aqui, se vivêssemos na grandeza ética, moral e espiritual. Seguindo-o, alcançaremos o patamar da convivênia com o necessário para todos caminharem com dignidade. Falta compaixão por parte de muitos que são gananciosos, imorais, injustos, desonestos, sumamente ambiciosos, invejosos, corruptos, malversadores do que é bem comum...

Jesus veio nos mostrar que é possível o exercício das atividades humanas com a promoção da justiça, da corresponsabilidade social, da solidariedade, do respeito à vida e à dignidade humana. A fé nele, vivida na prática, é uma força incrível que faz a pessoa realizar o ideal de servir e amar, em todas as profissões, vocações e situações humanas. A compaixão nos leva a ser sensíveis e atuantes para ajudar o semelhante a superar seus problemas e limites.


Dom José Alberto Moura, CSS
Arcebispo de Montes Claros, MG

Fonte: CNBB

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