A Assunção de Maria

O mês vocacional caminha com os acontecimentos históricos que marcam nossa vida e nossa caminhada. Estamos na Semana Nacional da Família e na Jornada Mundial da Juventude, que ocorre nestes dias em Madri, com a presença do Papa Bento XVI.

A solenidade da Assunção de Maria, que celebraremos no próximo final de semana, ilumina as orações pela vida consagrada. São tantas formas antigas e atuais de vida religiosa e novas comunidades, que seria louvável que nós, ao agradecermos a Deus por essas vocações de especial consagração, também rezemos pelo aumento e santificação das mesmas. A solenidade da Assunção nos ilumina tanto nessa vocação como também em nossa vocação à eternidade.

O Papa Pio XII, com a Constituição Apostólica "Munificentissimus Deus", de 1º de novembro de 1950, proclamou solenemente o dogma da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria: "A glória do Deus Onipotente, que derramou sobre a Virgem Maria o seu favor especial, para a honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para a maior glória de sua mãe augustíssima e a alegria e exultação de toda a Igreja, pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos Apóstolos Pedro e Paulo e a Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos o dogma por Deus revelado que: a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, tendo completado o curso da vida na terra, foi assunta em corpo e alma à glória celeste”.

Essa verdade de fé, como a da Imaculada Conceição, se por um lado tenta nos dizer algo sobre o mistério que ocorreu em Maria, de uma forma certamente única, por outro convida-nos a refletir cuidadosamente sobre aquela que é a nossa vocação.

Na verdade, a Assunção de deveria nos recordar,  no que diz respeito à humanidade, a "regra" de nosso destino final. Deus nos deu essa bela criatura, "Tota pulchra", para que nela todos os homens tenham um "sinal de segura esperança e consolação." Em Maria já se realizou de modo definitivo, cumpriu-se aquilo que será o futuro de cada homem e toda a humanidade: "sermos santos e irrepreensíveis diante de Deus no amor", participar plenamente do destino do Senhor Jesus. Ouvimos na segunda leitura da solenidade da Assunção: "Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram (...) como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo".

Maria é a primeira a participar plenamente na ressurreição de seu Filho Jesus; ela, que viveu sua vida totalmente voltada para fazer a vontade de Deus; ela, que estava completamente e permanentemente aberta para a acolhida do Dom da Graça – "cheia de graça". Ela, que viveu sua corporeidade de uma maneira autêntica, é a primeira, depois de Cristo, a participar na Ressurreição: Assunta em corpo e alma!

Também para o corpo existe lugar em Deus! O céu já não é para nós uma desconhecida esfera muito distante. Nós temos no céu uma Mãe.

A solenidade, que tradicionalmente é celebrada no dia 15 de agosto, no Brasil, quando cai em dia de semana, como neste ano, é transferida para o domingo seguinte, recorda-nos o verdadeiro valor do corpo humano, um corpo que é templo do Espírito Santo, um corpo que está destinado para a glória, para a incorruptibilidade. Recorda-nos também o nosso fim último, a nossa última morada, o nosso destino final.

Hoje vivemos em uma sociedade marcada pelo "mal-entendido" do corpo e da corporeidade. Vivemos em uma sociedade que muitas vezes valoriza o corpo humano apenas como um meio para aparecer e procurar prazer. Parece haver também a necessidade de ter de cuidar, até o excesso, da própria imagem estética, porque se sabe muito bem que um dos critérios para avaliar a pessoa humana é o aspecto físico.

É claro, portanto, que por trás dessa "ideologia" existe o fato de que se foi esquecendo que o que o corpo é, antes de tudo, o instrumento de comunicação do próprio "eu", das suas necessidades existenciais, emocionais. Foi esquecido que o corpo é o meio único, original, irrepetível, através do qual podemos entrar em relação com o mundo, e podemos prestar a esse o nosso humilde serviço a ele.

À imitação de Maria, somos chamados a andar contra a corrente, rebelando-nos contra aquela mentalidade que leva a uma apreciação errada do corpo. Esse caminho "contra a corrente" nos será possível se soubermos testemunhar o verdadeiro valor do corpo como meio para comunicar o amor. É essa experiência que fez Maria quando foi até Izabel: percebendo que o verdadeiro amor se expressa no serviço aos irmãos, ela "ofereceu o seu corpo como um sacrifício espiritual agradável a Deus," ajudando sua prima idosa.

Maria será para nós um "sinal de esperança segura e consolação" se aceitarmos andar contra a corrente. De consolação e de esperança residem no fato de que o nosso corpo é instrumento de comunhão, é destinado para ser glorificado, é destinado para ser doado, para viver uma experiência eterna de amor.

Engrandeçamos, portanto, Deus, nosso Pai: Ele quis que nós recebêssemos nesta terra um corpo mortal como instrumento de amor, de serviço, para herdar "no céu" um corpo glorificado e viver externamente a experiência do amor.

Que a Virgem Assunta ao Céu abençoe a nossa juventude para que, em Madrid, junto do Papa Bento XVI, na JMJ, ou na vigília do Rio de Janeiro, saiba valorizar o próprio corpo, tabernáculo de Deus, desde a concepção até o túmulo. Que Maria Assunta ao Céu nos ajude pela sua intercessão e exemplo a viver a santidade e a nos preservar  do pecado e da maldade, deixando-nos conduzir por Deus que pode nos guiar aos caminhos do bem.

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ

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