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Fascínio 
da riqueza










A mente, os sentimentos e os olhos da maioria das pessoas giram em torno da riqueza porque encontram, permanentemente, ao seu redor, os estímulos para sua posse. A riqueza, identificada em nações, grupos e pessoas, está presente na história da humanidade, em todas as civilizações, ao longo do tempo.


Há pessoas que são ricas apenas em razão da sua árvore genealógica; muitas nascem ricas, devido ao seu sobrenome; portanto, não têm mérito, na geração da riqueza, tampouco têm culpa se sua herança é fruto de explorações sociais. É claro que essas pessoas passam a ter um nível de responsabilidade moral, ética e social, conforme a natureza do seu procedimento, na medida em que passam a usar os dividendos de sua riqueza, participando ou de sua administração. Há pessoas que se tornaram ricas. 

De qualquer forma, há sempre necessidade de se identificar o processo de seu enriquecimento. Há inúmeros exemplos de homens e mulheres que alcançaram um elevado patamar de riqueza em razão de um trabalho dedicado, de uma gestão eficiente, de uma administração transparente, de uma poupança programada, de uma vida sóbria; nesse caso, há um mérito inegável nessa conquista, decorrente de princípios éticos e de práticas sociais. Existem testemunhos edificantes, na linha da solidariedade, por parte dessas pessoas ricas, exatamente, porque lembram o seu passado de obstáculos e dificuldades. Bem maior, com certeza, é o número de homens e mulheres que enriqueceram “da noite pro dia”, nos países pobres e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. 

Via de regra, essa riqueza é fruto de um sistema de acumulação de bens que provêm de conquistas nebulosas. Esse enriquecimento, comumente, é fruto de corrupção e desonestidade; o povo percebe logo isso porque “dá na vista” o aumento do patrimônio de desterminadas pessoas. Isso é muito visível na administração pública e no mundo empresarial; com efeito, a corrupção está muito presente na vida de administradores públicos, nos seus diversos níveis, e de empresários que se locupletam, mediante práticas escusas, em sua prestação de serviços aos poderes públicos. Esses homens e mulheres são guiados pelo fascínio da riqueza e do poder.

Revistas especializadas classificam, anualmente, as maiores riquezas do mundo que, normalmente, não conhecem muitas oscilações, salvo quando há problemas em determinados setores da economia e suas ações caem nas Bolsas de Valores. Esses ricos são vistos como modelos de êxito. De fato, a riqueza exerce um fascínio sobre as pessoas porque, afinal, a sociedade trata de uma maneira diferente os ricos e pobres. Essa mentalidade começa no ambiente familiar e se fortalece no convívio social. Na realidade, a sociedade da abundância e do consumo sempre propõe a riqueza como um ideal a ser atingido, sendo considerado válido qualquer meio para alcançá-la. Essa cultura é desastrosa, no processo de formação da personalidade e, consequentemente, essa prática é perniciosa no exercício da profissional.

Deus não condena a riqueza em si, porém, na Sagrada Escritura, sua palavra encontra nela uma fonte de perigos. O livro do Eclesiástico diz: “Não te deixes apoiar nas tuas riquezas e não digas: ‘Bastam-me os meus recursos!’. Não te apoies em riquezas injustas, pois de nada te valerão no dia da desgraça.” (Eclo 5,1.10) Ezequiel escreve: “Com grande tino comercial fizeste fortuna. Mas teu coração se tornou soberbo com tua riqueza. (Ez 28,5) Jesus fala: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” (Mt 6,24) São Tiago, dirigindo-se aos ricos que fazem mal uso de sua riqueza, afirma: “Vossa riqueza está apodrecendo”. (Tg 5,2)

O fascínio da riqueza pode levar a pessoa ao declínio moral e à reprovação divina.

Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares

Fonte: CNBB

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